Foi uma fonte

Comicamente humana
Com berloques e franjas engalanadas
Pressão presa com arames e cuspo.

Traços de corrente
Assente numa estría
Quente e fria
Engorda e esmifra
Sempre morfando e rasgando peles
Que nascem por dentro iguais às de fora.

Sempre fonte, nunca rio
Sem rápidos nem compassos
Um circuito fechado com filtro aberto.
Glândula pineal marmorizada
Com leões que vomitam laivos de chama
Sem combustível.

Era uma fonte
Que unia gente à volta
Numa praceta com palmeiras e chorões
Salgueiros que não salgam
E balsas e amoras silvestres
Maduras de amor sem foco.
As placas indicam
Que me perdi
Nos oceanos de ternura
Cristalinos irradiando negrume.

As pessoas passeiam os seus traumas
Tipo cães atrelados a um autocarro urbano
E sorriem perto da fonte
Que não sorri de volta.
Os leões sem expressão asseguram a calma
No rebuliço da urbe em trânsito.
A fonte chora continuamente
Para que riam os cantores e bêbados
Que nela matam ressaca, sono e sede.

Continuou a ser uma fonte
Aceitou o seu estático continuar.
Nutriu o seu fluir e pesar
Com o gotejar de sonhos novos

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