Afinal eram camélias
Vejo-as todos os dias
Da almofada que me sequestra,
A espreitar da minha janela
E a roçar as grades ferrugentas
Da jaula platinada que guarda os meus medos.
Elas não me perdoam a inércia
E choram castanho e bafio
Cospem pétalas cansadas
E não renovam os seus botões,
Por despeito.
Oiço rir e imagino as tuas amêndoas
Rasgadas em luz negra aveludada,
Apertadas contra a chiadeira do meu peito.
Descolo as pálpebras que teimam em selar
Os meus olhos, para a ilusão continuar,
E vejo que quem ri é a roseira.
Pensei em fazer um arranjinho
Que te mostrasse onde os meus lábios
Querem ir, e dissesse os poemas
Que eu não sei escrever.
E quando me fosse embora
A rastejar de volta à gaiola do meu penar,
Ias lembrar-te da nossa ardência
Cada vez que te cheirasse a rosas.
Mas elas escolheram desviver,
Como eu tentei fazer com os meus sentimentos.
Não fui capaz,
E eles ainda me beliscam os mamilos
Do lado de dentro.
Entretanto as cameleiras,
Com os seus brotos de alvura virgem
Vão regenerando e pedindo que as leve
Ao vale do teu regaço
Porque te querem fazer sorrir.
Que se foda a paixão das rosas,
Já tou cheio de picos e ainda não apanhei nenhuma.
Quero só acalmar o meu ganir vascular,
E melhorar o teu dia com uma piadola branca,
Que sem graça te faça,
Saber que és rainha do meu jardim
São camélias senhora
Comentários
Enviar um comentário