quarta-feira, 23 de março de 2011

“Não percas demasiado tempo a julgar o que vês, meu filho, pois os olhos são os piores inimigos do espírito. Não cries opiniões sobre as coisas, deixa que as coisas criem opiniões em ti. E nunca, mas nunca te julgues dono da verdade absoluta. Esvazia a tua mente de monstros e de teias de aranha que prendem pensamentos desnecessários e desfruta cada pôr-do-sol.”

terça-feira, 22 de março de 2011

Pergunto ao Sol errante,
Quem me lançou esta maldição
Em quem pode caber tanta perfeição
Que nada há que me encante
Como a beleza ofuscante,
Que guardas na doçura de tua mão.

Correm dentro de mim
Mil cavalos selvagens
De azul e carmim,
Que se torcem para te ver
Que esperneiam em meu ser,
E me torturam sem fim.

Mas a alma de um estranho poeta
Tão infeliz e irrequieta,
Nunca te poderá albergar.
Pois que pobre é o seu ser
Em constante desvanecer,
Que não chega para te amar.

terça-feira, 15 de março de 2011

O horizonte esconde a Lua, mas astros flamejam-lhe a cara e enchem-lhe o peito de arrepios esperançosos e melódicos. O mar salta ao eixo como que duas crianças a brincar numa caixa de areia lisa e suave como veludo. Dinis rejubila ao sentir as suaves carícias da maresia e deleita-se com uma paz de espírito nunca antes por ele sentida. Tinha sido naquela selvagem e pura praia que a sua alma deambulara durante toda a sua existência. Cresceu, soltou amarguras, viu, sentiu, chorou e vagueou naquele espaço que sentia como seu.
Nascido numa vila próxima da costa, Dinis todos os dias esperava ansiosamente pelo toque da campainha da sua escola. Assim que era chegada a hora de sair, o menino corria desenfreadamente pelo meio da balbúrdia e direccionava os seus olhos para a estrada de terra, estreita e esburacada que se estendia até a Prainha, sitio onde passava todas as suas tardes a olhar para a linha que separava o mar do infinito. Por vezes, quando o Verão fazia as tardes arrastarem-se, Dinis banhava-se demoradamente na salgada e translúcida água do mar. Era aquele o seu sítio. Não conseguia estar em casa sem pensar no quanto desejava voltar a ver o baloiçar das ondas. Às vezes sentia-se só e, quando isso acontecia, desenhava na areia estrelas com as quais imaginava conversar.
A sua mãe tinha morrido no parto e o seu pai desapareceu naquelas águas que Dinis tanto adorava. A família que lhe restava limitava-se a uma tia solteira que o criara desde a sua aparição ao mundo. Dinis era conhecido pela gente da vila como “filho do mar”, pois ninguém tinha a certeza onde é que começava a criança e acabava o mar. A sua infância foi assim passada, entre o oceano e as quatro paredes da escola, que mal o conseguiam segurar.
Perto de fazer os seus dezasseis anos, Dinis descobriu que havia uma coisa que disputava o seu interesse pelo mar. Seu nome era Carolina. Rapariga de cabelos loiros como fios de ouro e olhos azuis que pareciam tão fundos como o mais fundo dos oceanos. Sua graça e sua leveza faziam-lhe lembrar as gaivotas que planavam na costa e havia algo de puro e bom que ela transmitia a quem a rodeava.
Certo dia caminhava pensativamente Dinis para o seu pousio quando reparou num reflexo de cor áurea. De olhos azuis vivos e audazes, esperava Carolina envergando uma túnica de suaves tons lilases e uma rosa branca presa numa trança que parecia moldada pela mais suave ventania. Sentada na areia, construía vagarosamente castelinhos nos quais fantasiava viver um dia.

Devaneio numero sete

Onde estás tu, minha luz?
Não percebi porque saíste,
Nunca mais te vi,
Nem tu me viste…

Porque não estás aqui?
E por que caminhos medonhos
Deambulas sem mim,
E me ofuscas os sonhos.

Sem ti não consigo
Chegar ao amanhecer
Que minh’alma não consegue ver,
Cada dia parece um castigo.

Se um dia voltares
Abraçar-te-ei sem fim
Mas se não me encontrares
Foi de amor que morri.