segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sinto-me a estancar, a perder a reacção. O reflexo que me manda tentar ser feliz tem tanta força quanto uma pedra da calçada. Apesar de pisado, aguenta com tudo em cima sem gritar, agitar-se, abrir uma fenda no chão ou no espaço. Nem sequer treme. Heroicamente ainda lá está para me servir de suporte, assim como as pedras da calçada.
É assim a vida, o anoitecer é que nos tem nas unhas, ele é que nos há-de juntar. Se não nos juntar há sempre o dia em que o Sol bate no sentido certo e faz a pedra da calçada estalar e inaugurar um rasgo na superfície terrestre. Aí o reflexo romperá por mim a dentro e a aurora boreal há-de se encandear comigo e contigo e com a nossa luminosidade astronómica.
Há sempre o dia em que o Sol bate no sentido certo.... Se a nossa história ainda não foi escrita no tecto do mundo é por minha culpa e tua, ninguém nos iliba. De qualquer das formas, o Sol bate no sentido certo quando a janelas estão abertas.
            mesmo se não estiverem, HÁ SEMPRE O DIA EM QUE O SOL BATE NO SENTIDO CERTO    (apetecia-me escrever isto mais 5 ou 6 vezes)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A minha cabeça já te escreveu
Tantas cartas de amor,
Tantas declarações de devoção total,
Tantos romances ficticiamente perfeitos....

Sinto-me absurdo quando me lembro
Que nunca te disse nada,
Que me passaste ao lado quando lia,
Relia, flamejava com sangue a tinta que escorria,
E  escrevia.....

Era um livro por acabar
Porque não se consegue acabar,
Por nossa história não ter
Um fim compatível com a efemeridade
Dum rastilho de vida a arder.

Posto isto,
A única coisa que realmente
Me afoga e turva a mente
É o facto de não te ver.
De resto, passas os dias comigo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013


Às vezes parte-se-me a cabeça ao meio e jogo-me à doença que tenho em mim. Queria tanto cortar as partes da minha consciência que me dizem que provoco este mal a mim mesmo mas cortá-las não as eliminava por completo. Aliás, é daquelas doenças a que a ciência chama degenerativas e a poesia chama docemente indeléveis.
Dizer que a doença é um estado de espírito com ar condescendente é por vezes demonstrar temeridade de frente a um rochedo pronto para abater-se em cima do referido doente. Dizê-lo é também agressivo para com a integridade emocional da doença em si, elas não gostam de ser rebaixadas a esse ponto. Afinal de contas por vezes as doenças também têm sentimentos. Esta minha não tem sentimentos porque não passa disso, um sentimento.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Na viagem estática
De ontem à noite
Quis apagar-me da realidade,
Já que durante o dia sou cobarde...

A noite sabe quando estou perdido
E quando estou escondido.
Ela sabe sempre,
Porque vive em mim e eu vivo nela.

Nunca me fez sentido
Saber de crianças com medo da noite,
Porque ela criou-me e criou-te,
Minha fantasia de alma dispersa.

O lascivo breu que chega,
Atropelando o ingénuo clarão,
É meu amigo.
Nele não encontro o meu umbigo

No escuro não há um eu
Porque se não nos vemos não existimos,
Afinal de contas a liberdade é uma não-existência
E uma ponte de cordas para a demência...

Mas eu confortei-me nesta noite
Com o braço não-existente que me aconchega.
Enquanto espero a Luz, espero a sorte,
Esperando a morte

domingo, 14 de abril de 2013

Rastejante e latejante, contorço-me quando te vejo a flutuar no meio das caras desfocadas de pessoas à tua volta. Essas pessoas à tua volta não passam disso, pessoas turvas e inócuas . Não sei se sou o único naquele momento a ver-te assim, e isso perturba-me seriamente a sanidade mental. Vejo-te incandescente. Pegas-me fogo e eu deixo-me arder devagarinho, e se um fragmento da minha alma feita em cinzas ficar preso aos teus cabelos, arder valeu a pena.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Já olharam bem para as estrelas hoje? Pois é, não têm nada de especial, estão assim todos os dias. E quando não estão assim, é porque têm o veludozinho húmido das nuvens a escondê-las. Por vezes brilham muito mais do que hoje, resplandecem que nem faróis cravados no tecto do mundo. Adoro ter nas estrelas uma companhia no escuro da solidão, são persistentes e quase nunca fogem. Às vezes quem foge somos nós que, afocinhados no chão de terra sonolenta, na Terra que circula lenta, perdemos o hábito de olhar para cima, e o essencial de olhar para cima é perceber a nossa gigantesca pequenez. Perder-mo-nos no nosso umbigo, contornando-o como a uma rotunda, infinitamente, acontece demasiado. Mas se pelo menos uma vez por outra tivermos a audácia de olhar o céu e sentirmo-nos pequenos, é possível que não sejamos engolidos pelo redemoinho de egocentrismo que temos no centro da barriga.

quarta-feira, 6 de março de 2013

arghhhhh. Estou farto de me balbuciar o teu nome repetidamente na minha cabeça, parece que me colaram um post-it nos óculos com o teu nome escritoarghhhhhhhhhh é como se fechasse os olhos e tivesse um screensaver com a tua cara a flutuar dum lado para o outro cmkfjngvbfuncidmcnfuvbytfuncdi. Entro em pânico apenas por escrever isto, imagina o pânico que tenho em dizê-lo.

terça-feira, 5 de março de 2013

E que estranho é
Ser alguma coisa absoluta
Uma apenas e só.
Uma pessoa devoluta
Que grite mas que não se oiça,
Uma personalidade de cão de loiça.

É assim que vão
Presos aos fios do teu cabelo
Bocados de mim.
Sou um fragmentado modelo
Do que fui um dia,
Ainda não te conhecia...

Não sonhas que ao ver-te
O que nos separa parece um abismo
E sinto-me perto do fim.
Não há sismo
Que trema tanto no mundo
Como o que treme cá no fundo.


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Engolir. Engolir em seco, engolir quando se quer dizer alguma coisa mas a voz não sai. Engolir quando se é humilhado ou magoado. Engolir quando o mundo cai em cima da nuca. Engolir quando se tenta estalar os ouvidos, engolir uma colherada da sopa que se detesta, engolir uma mão cheia de pioneses, engolir um litro de bagaço, engolir um pirolito de água salgada.
Engolir, é um verbo tão subentendido que ele próprio tem vergonha de se mostrar na voz da gente. Hoje apetece-me seriamente engolir o mundo. Engolir cada centímetro de superfície terrestre. O mundo é o grande medo para gente pequena, mas eu já não me sinto pequeno e acho que o mundo tem que entrar em mim. Como? Sentindo com a ponta dos dedos a suavidade de um pescoço que se afaga no meu ombro, cortando a amarra desta vida corriqueira, encarando o Sol e a Lua e o que quer que esteja sobre nós. Há que abandonar os lençóis que nos aconchegam à restrição da nossa vida, ver por mais além. Contemplando esta restrição, deixando-se amordaçar por ela, estão as pessoas. Quebrando-a, rasgando a Gravidade que nos cola a esta sonolência, contorcendo em espasmos de vontade de amar de ver de arder de correr de voar, estão as pessoas VIVAS.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Arranhadora suave do silêncio da minha cabeça, a tua voz salta-me em cima da pele e cria-me tremores. Já não funciono mais, é como uma cãimbra que vem do centro do peito, como se o ar me fugisse da respiração, como se me trespassassem com uma pena os nós da espinha. Passam-me por trás dos olhos reflexos de sensacional êxtase. Antevejo sabor a primavera, uma trança que descansa em cima do meu peito e olhos que transcendem o escuro breu, tornando-o aurora resplandecente. Antevejo-te.
É logo depois de revirar os olhos que me cai o mundo em cima, e o que antevejo não vejo ser. Não vejo acontecer o que parecia tão possível e tão formidável. É só um delírio, apenas mais um. Vendo bem, parecia tão formidável que duvido merecer algo assim