quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Engolir. Engolir em seco, engolir quando se quer dizer alguma coisa mas a voz não sai. Engolir quando se é humilhado ou magoado. Engolir quando o mundo cai em cima da nuca. Engolir quando se tenta estalar os ouvidos, engolir uma colherada da sopa que se detesta, engolir uma mão cheia de pioneses, engolir um litro de bagaço, engolir um pirolito de água salgada.
Engolir, é um verbo tão subentendido que ele próprio tem vergonha de se mostrar na voz da gente. Hoje apetece-me seriamente engolir o mundo. Engolir cada centímetro de superfície terrestre. O mundo é o grande medo para gente pequena, mas eu já não me sinto pequeno e acho que o mundo tem que entrar em mim. Como? Sentindo com a ponta dos dedos a suavidade de um pescoço que se afaga no meu ombro, cortando a amarra desta vida corriqueira, encarando o Sol e a Lua e o que quer que esteja sobre nós. Há que abandonar os lençóis que nos aconchegam à restrição da nossa vida, ver por mais além. Contemplando esta restrição, deixando-se amordaçar por ela, estão as pessoas. Quebrando-a, rasgando a Gravidade que nos cola a esta sonolência, contorcendo em espasmos de vontade de amar de ver de arder de correr de voar, estão as pessoas VIVAS.

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