terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Esta morte do ser que é ter medo de ser, de não ser, ser demais ou a menos. Este definhar da alma que não agita nem morre, não adiciona nem dissolve. Este correr sem estrada, descalço sem chão para pisar ou preso sem trela para desafogar.
Abrasam-me chamas neutras da cor da cal e sinto mármore no tórax, tão pouco rosa quanto a minha indolência. Nem o fumo que faço é denso, apesar dos meus pulmões chiarem como um comboio a vapor. O meu coração palpita por pena do resto dos órgãos e as terminações nervosas do meu cérebro jogam ao peixinho sentadas em cadeiras frágeis do caruncho. A bicheza apodera-se de mim. A bicheza sou eu.
Olho para a televisão desligada e vejo um filme de memórias imaginadas. E que romântico... As minhas memórias são putas solitárias e prostituem-se baratinhas. Dão tudo o que têm num acto de amor lânguido e fogosamente abnegado em troca de cinco paus de atenção e meio cafuné.

Sem comentários:

Enviar um comentário