domingo, 16 de outubro de 2011

Que estranho luar,
Que palavras fora-da-lei,
Que espírito conturbado!

Que estranho luar
Vemos hoje, meus amigos!
As estrelas ofuscadas pela Lua
Procuram desesperadamente abrigos…
Não apaguem essa luz de apocalipse,
Que a loucura de amantes está a cegar!

Que palavras fora-da-lei
Fugiram hoje, meus amigos!
Correm agora pela rua
Roubando sorrisos a mendigos…
Deixem-nas abalar alegremente,
Que um dia ainda as filarei!

Que espírito conturbado
Suspira hoje, meus amigos!
Porquê essa ânsia tua
Que de portas arrancas postigos…
Mas não lhe larguem os cães,
Pois que é só um poeta desconsolado!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Os pássaros que vivem calados
E que não animam prados,
Respiram a mesma dor que eu.
E já por menos se morreu…
Não quero penar.

Mas não é isto que me faz parar,
Antes me faz continuar
A girar em torno da Lua
Que um dia vai ser minha e tua,
Eu conseguirei Ver.

Se assim penso é por não me conter,
A realidade parece transparecer
E nítida, sem qualquer escuridão,
Estás tu na tua imensidão
Interestelar .

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A barreira do tempo faz-me sangrar dos ouvidos e a falta de luz queima-me os sentidos com um fugaz e ofuscante brilho de pedra nua. Não faço ideia do que acontece, o vento já me levou a nitidez e os olhos imaginários que se fixavam em mim roubaram-me a lucidez dos momentos que podiam ter acontecido.
Cada dia que passa é um passo para o infinito e os relâmpagos que tentam dar faísca à minha vida falham, a chama não pega porque a chuva não para de cair.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Quando for util para os outros a minha vida vai ter sentido e a minha alma pequena e estupida vai estar pronta para abraçar a eternidade..

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A vida foge,
Por isso corre, rapaz.
Corre enquanto és capaz
De iluminar a alma
E de ver o Sol ao longe.

Quando não fores capaz
Verás que viver não importa,
Se a tua alma não beber
Da fonte que nasce dos olhos
De quem calou a tua lingua morta,
E que te mata, sem saber.
Estou vivo,
Não me perguntem como estou.
Não sei porque ainda estou assim,
Não sei se mereço estar assim,
Sei que estou escondido
E que não há luz em mim.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Da minha janela consigo ver
Cores mundanas,
E gente que parece feita de canas
E até rastos do que nunca consegui ser.

Da minha janela as pessoas
Parecem o que são,
Formigas.
Desde o anão ao que não vê,
Almas inimigas
Sem saberem porquê.

E assim da minha janela percebo,
Que não é do mundo que tenho medo.

E da minha janela só não desejo
O que as pessoas podem ser,
Mas que diferença pode haver,
Se da minha janela nada vejo?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Persigo-me,
Não sei porquê.
Minha alma está cega,
Meu espírito já não vê.

O que é feito de mim?
Perdido nesta amargura...
E a que horas se põe o Sol?
Pois que enquanto a vida dura
Não cessa a tortura...

E onde está a luz
Que outrora me inebriava,
E de espírito rubescente
Ninguém me guiava,
Seguia para o Poente.

Mas que Poente era este
Que me trouxe fantasmas,
E agora contorço-me em asmas...
Sou uma sombra escura,
De mim, pouco ou nada perdura

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um dia,
Que cortes o vento com o olhar
E me sonhes por um momento
Vais fazer parar o tempo
E o mundo vai acabar
E nada me vai iluminar.

Sim,
É nisto que eu penso
E ao fim do dia repenso…
O que é que fiz de mal
Que nem a água do mar
Nem os teus cabelos
Me sabem a sal?

Depois,
Já pouco tenho para viver.
Pelo menos assim parece
Pois que o horizonte escurece
E eu já não tenho razões para crer.
Pelo menos no amor
Que até agora só me trouxe dor
E me fez deixar de ver.
Pelo menos os teu olhos
Que transbordam luz
E que sem saberes são minha cruz.

quarta-feira, 23 de março de 2011

“Não percas demasiado tempo a julgar o que vês, meu filho, pois os olhos são os piores inimigos do espírito. Não cries opiniões sobre as coisas, deixa que as coisas criem opiniões em ti. E nunca, mas nunca te julgues dono da verdade absoluta. Esvazia a tua mente de monstros e de teias de aranha que prendem pensamentos desnecessários e desfruta cada pôr-do-sol.”

terça-feira, 22 de março de 2011

Pergunto ao Sol errante,
Quem me lançou esta maldição
Em quem pode caber tanta perfeição
Que nada há que me encante
Como a beleza ofuscante,
Que guardas na doçura de tua mão.

Correm dentro de mim
Mil cavalos selvagens
De azul e carmim,
Que se torcem para te ver
Que esperneiam em meu ser,
E me torturam sem fim.

Mas a alma de um estranho poeta
Tão infeliz e irrequieta,
Nunca te poderá albergar.
Pois que pobre é o seu ser
Em constante desvanecer,
Que não chega para te amar.

terça-feira, 15 de março de 2011

O horizonte esconde a Lua, mas astros flamejam-lhe a cara e enchem-lhe o peito de arrepios esperançosos e melódicos. O mar salta ao eixo como que duas crianças a brincar numa caixa de areia lisa e suave como veludo. Dinis rejubila ao sentir as suaves carícias da maresia e deleita-se com uma paz de espírito nunca antes por ele sentida. Tinha sido naquela selvagem e pura praia que a sua alma deambulara durante toda a sua existência. Cresceu, soltou amarguras, viu, sentiu, chorou e vagueou naquele espaço que sentia como seu.
Nascido numa vila próxima da costa, Dinis todos os dias esperava ansiosamente pelo toque da campainha da sua escola. Assim que era chegada a hora de sair, o menino corria desenfreadamente pelo meio da balbúrdia e direccionava os seus olhos para a estrada de terra, estreita e esburacada que se estendia até a Prainha, sitio onde passava todas as suas tardes a olhar para a linha que separava o mar do infinito. Por vezes, quando o Verão fazia as tardes arrastarem-se, Dinis banhava-se demoradamente na salgada e translúcida água do mar. Era aquele o seu sítio. Não conseguia estar em casa sem pensar no quanto desejava voltar a ver o baloiçar das ondas. Às vezes sentia-se só e, quando isso acontecia, desenhava na areia estrelas com as quais imaginava conversar.
A sua mãe tinha morrido no parto e o seu pai desapareceu naquelas águas que Dinis tanto adorava. A família que lhe restava limitava-se a uma tia solteira que o criara desde a sua aparição ao mundo. Dinis era conhecido pela gente da vila como “filho do mar”, pois ninguém tinha a certeza onde é que começava a criança e acabava o mar. A sua infância foi assim passada, entre o oceano e as quatro paredes da escola, que mal o conseguiam segurar.
Perto de fazer os seus dezasseis anos, Dinis descobriu que havia uma coisa que disputava o seu interesse pelo mar. Seu nome era Carolina. Rapariga de cabelos loiros como fios de ouro e olhos azuis que pareciam tão fundos como o mais fundo dos oceanos. Sua graça e sua leveza faziam-lhe lembrar as gaivotas que planavam na costa e havia algo de puro e bom que ela transmitia a quem a rodeava.
Certo dia caminhava pensativamente Dinis para o seu pousio quando reparou num reflexo de cor áurea. De olhos azuis vivos e audazes, esperava Carolina envergando uma túnica de suaves tons lilases e uma rosa branca presa numa trança que parecia moldada pela mais suave ventania. Sentada na areia, construía vagarosamente castelinhos nos quais fantasiava viver um dia.

Devaneio numero sete

Onde estás tu, minha luz?
Não percebi porque saíste,
Nunca mais te vi,
Nem tu me viste…

Porque não estás aqui?
E por que caminhos medonhos
Deambulas sem mim,
E me ofuscas os sonhos.

Sem ti não consigo
Chegar ao amanhecer
Que minh’alma não consegue ver,
Cada dia parece um castigo.

Se um dia voltares
Abraçar-te-ei sem fim
Mas se não me encontrares
Foi de amor que morri.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Devaneio numero seis

Já não sou quem era
Sou meio do que fui,
Mesmo que não tenha sido nada
Vivo uma realidade ofuscada
Minh’alma diminui,
Voltar… quem me dera.

Minha mente turva reflecte
Sombras que a poesia não aquece
Que calam a Primavera,
Mas eu já não fico à espera
Pois já não sou quem era.

Um dia, quando a vida em mim
Despertar, numa ilusão sem fim
Hei-de ler o horizonte
E ter em meus olhos uma fonte
Da qual brotarão mil sonhos,
E os pensamentos medonhos
Não mais me perturbarão.

Mas enquanto o Sol não nascer
E a sua luz não me fizer cantar
De mágoa hei-de viver,
Não vou mais levitar
Até a Primavera resplandecer.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

E ainda a propósito deste último post, aqui vai um video que transpira nostalgia e no qual eu me identifico bestialmente.

Águas Passadas

Por estranho que pareça, cada vez que estou com o olhar perdido neste ecrâ maleficamente electrónico e com a cabeça cheia de um vazio nostálgico provocado pela música que faz ondular a atmosfera circundante, passa a sempre atarefadíssima Cristina Maria (para quem não conhece, minha progenitora) e, após murmurar um ou dois versos da música que oiço, diz qualquer coisa como: "Ah gosto tanto desta música! Não a ouvia há anos!" (Isto num dia simpático, claro).
Tudo isto só mesmo para concluir que, sem qualquer sentido de bom-senso, a Nostalgia abandonou a sociedade no geral... a moça agora esconde-se em cérebros micro-climáticos e estranhos como o meu. Digo isto porque já é escasso o jovem de 16 anos a quem os nomes Simon & Garfunkel, Roy Orbison ou Bob Dylan dizem alguma coisa!
Será quem temos que ir buscar a Nostalgia a San Francisco, com uma flor no cabelo, como diz a música de Scott Mackenzie (San Francisco(Be Sure to Wear Flowers in Your Hair)) ou teremos de recuar até ao tempo em que se respirava conspiração e em que Eça falava dos tais Gentlemen que se cultivavam em longos serões de canasta, livros e charutos?
Para concluir, proponho a mim próprio uma questão, "será que a Nostalgia só se atrai por flores e pacifismo e por conspirações políticas??"...