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sacrifico a minha alma aos deuses da apatía Eles cospem-na de volta e contemplam-me: Sabem que eu não lhes devo nada. -Tu não estás apático Dizem-me em palavras calmas com o zumbir estático, firme e calmo do Universo Eu pensava que esta minha letargia se apelidava apatía, sentia-me no direito de a partilhar com as entidades que são o Todo e o não-Todo. Mas descobri, por vía desta negação dos que Tudo-Nada são, que o poder de apatizar a alma não pertence ao domínio humano. A apatía rejeita o sentir e eu, enquanto alminha espantada, petulante e propulsionadora de movimento, deslizo em cristas de espuma salgada cristalina de sentimento, ondas do meu fulgor ridiculamente dramático. Logo, como Eles me disseram, não estou apático. Apático está o carvalho centenário que come das mesmas raízes o mesmo chão que comeu há incontáveis gerações de pessoazinhas atrás. Assim como o Siddartha incólume que, silente, proclama o ohmmm, eterno criador e destruidor de tudo o que conhecemos e é...
Esta morte do ser que é ter medo de ser, de não ser, ser demais ou a menos. Este definhar da alma que não agita nem morre, não adiciona nem dissolve. Este correr sem estrada, descalço sem chão para pisar ou preso sem trela para desafogar. Abrasam-me chamas neutras da cor da cal e sinto mármore no tórax, tão pouco rosa quanto a minha indolência. Nem o fumo que faço é denso, apesar dos meus pulmões chiarem como um comboio a vapor. O meu coração palpita por pena do resto dos órgãos e as terminações nervosas do meu cérebro jogam ao peixinho sentadas em cadeiras frágeis do caruncho. A bicheza apodera-se de mim. A bicheza sou eu. Olho para a televisão desligada e vejo um filme de memórias imaginadas. E que romântico... As minhas memórias são putas solitárias e prostituem-se baratinhas. Dão tudo o que têm num acto de amor lânguido e fogosamente abnegado em troca de cinco paus de atenção e meio cafuné.